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Catherine, por que razão a AEA se dedica ao domínio da saúde e do ambiente? Quais são os maiores riscos para o nosso bem-estar?
A saúde humana e a saúde dos ecossistemas estão inextricavelmente ligadas. Os nossos organismos precisam de ar limpo, água e alimentos todos os dias para funcionarem. Prosperamos como pessoas e como comunidades passando tempo em contacto com a natureza, exercitando-nos, socializando e relaxando. Em contrapartida, o corpo e a mente sofrem quando vivemos, trabalhamos, vamos à escola ou brincamos em ambientes poluídos. A proteção da natureza não se trata somente de proteger o planeta. Trata-se de garantir a nossa própria saúde e bem-estar, bem como a das nossas crianças. A prevenção da poluição é uma medida de saúde pública.
Os maiores riscos imediatos para a saúde são a poluição atmosférica e o ruído, especialmente nas cidades. A longo prazo, as alterações climáticas constituem uma ameaça existencial ao nosso estilo de vida. Essas alterações implicam a perda imediata de vidas devido a vagas de calor, incêndios florestais e inundações, bem como ameaças a longo prazo à produção alimentar decorrentes da alteração dos padrões climáticos. Também assistimos a mudanças na distribuição das doenças infeciosas, pois, com o aquecimento, os vetores de insetos que transportam essas doenças têm vindo a deslocar-se para norte. Sabemos também que certos produtos químicos são perigosos para a saúde.
Qual é o trabalho da AEA nesta área? esforços envidados pela AEA até agora, neste domínio?
Estamos a trabalhar para compreender melhor a forma como o nosso ambiente influencia a nossa saúde e bem-estar. Temos recolhido dados que nos permitirão perceber de que forma as pessoas em toda a Europa estão expostas a uma série de riscos ambientais, incluindo a poluição atmosférica, o ruído, as alterações climáticas e os produtos químicos. O nosso recente relatório Healthy environment, healthy lives: how the environment influences health and well-being in Europe [Ambiente saudável, vida saudável: o modo como o ambiente influencia a saúde e o bem-estar na Europa] — Agência Europeia do Ambiente reúne os dados mais atuais e avalia o impacto na saúde. A Organização Mundial da Saúde estima que, na Europa, uma em cada oito mortes resulta da poluição ambiental. Estas mortes são evitáveis e poderiam ser evitadas através de esforços para melhorar a qualidade ambiental.
Também exploramos a forma como os riscos ambientais estão distribuídos por toda a sociedade e descobrimos que as pessoas mais vulneráveis da nossa sociedade são as que são mais fortemente atingidas pelos fatores de pressão ambiental. As comunidades socialmente desfavorecidas estão expostas a uma maior carga de poluição. As pessoas mais pobres, as crianças, os idosos e as pessoas com problemas de saúde são os mais afetados pelos riscos ligados à saúde ambiental. Esta distribuição desigual dos riscos agrava as desigualdades existentes no domínio da saúde na Europa.
Pelo lado positivo, analisamos também os benefícios que a natureza nos oferece. Em particular, a grande maioria das pessoas na Europa tem acesso a água potável de alta qualidade e as águas balneares europeias são também de excelente qualidade oferecendo oportunidades de exercício e lazer.
De que forma o trabalho da AEA apoia o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal)?
O trabalho da AEA no domínio do ambiente e da saúde reúne os dados disponíveis sobre o impacto da poluição, das alterações climáticas e da degradação dos ecossistemas na saúde em toda a Europa. O nosso recente relatório O ambiente na Europa — Estado e perspetivas 2020 (SOER 2020) descreve a forma como o nosso modo de vida atual, em termos do que produzimos e consumimos, do nosso consumo energético, das nossas escolhas de mobilidade e do nosso sistema alimentar, conduz à degradação ambiental. Esta base de conhecimentos apoia os esforços para mudar essa dinâmica através de uma transição no âmbito do Pacto Ecológico Europeu.
Alberto, por que razão é a qualidade do ar um fator tão importante para a saúde dos europeus?
A poluição atmosférica é considerada, de uma forma isolada, o maior risco ambiental da Europa. Segundo as nossas mais recentes estimativas, a exposição a partículas finas (o poluente com efeitos mais graves na saúde humana) causou mais de 400 000 mortes evitáveis na Europa, em 2018. Essas mortes decorreram principalmente de doenças cardiovasculares e respiratórias e de doenças cancerígenas. Contudo, além destas doenças muito graves, há cada vez mais provas de que a exposição à poluição atmosférica contribui também para outros impactos na saúde. Entre eles, podemos referir a diabetes tipo 2, a síndrome da resposta inflamatória sistémica ou distúrbios mentais como a doença de Alzheimer e a demência.
A poluição atmosférica afeta também o ambiente, por exemplo, reduzindo a biodiversidade em certos ecossistemas e afetando o crescimento da vegetação e das culturas.Tem também impacto no ambiente construído, danificando, por exemplo, o nosso património cultural.
Que melhorias se verificaram nos últimos anos? Quais são os problemas que ainda precisam de ser resolvidos?
A aplicação das políticas e medidas da UE, nacionais e locais levou a uma redução das emissões de todos os poluentes atmosféricos, uma redução da exposição das populações que provocou menos impactos na saúde.
As emissões diferem consoante os poluentes e os setores económicos. Por exemplo, a agricultura e a utilização de combustíveis para aquecimento residencial são dois dos setores com maior potencial para uma maior redução das emissões. Outro problema que ainda existe, apesar de uma redução continuada, consiste no número de mortes que poderiam ser evitadas. A crescente influência das alterações climáticas na produção de alguns poluentes, como o ozono, é também uma preocupação, assim como a necessidade de procurar sinergias nas políticas que combatem a poluição atmosférica e as alterações climáticas.
Eulalia, por que razão a poluição sonora é frequentemente ignorada e o que está a ser feito pela AEA neste domínio?
Muitas pessoas não percebem que a poluição sonora é um problema importante. Essa poluição afeta a nossa saúde. Quando falamos em ruídos passíveis de afetar a nossa saúde, pensamos em concertos ou em máquinas ruidosas que prejudicam a nossa audição. No entanto, as pessoas não se apercebem de que níveis constantes de ruído do tráfego, por exemplo, podem causar outros efeitos além dos danos auditivos. Tais efeitos podem ser tão graves como a doença cardíaca isquémica, hipertensão, obesidade, diabetes, etc. As autoridades reconhecem que o ruído é um problema, e é por isso que temos uma diretiva europeia sobre o ruído ambiental desde 2002, e novas diretrizes da OMS. O problema prende-se mais com a tomada de medidas e com a existência de meios financeiros para o fazer. Trata-se de uma questão difícil porque, por exemplo, as cidades e as suas periferias estão cada vez mais povoadas, o que aumenta a procura de mobilidade.
O trabalho da Agência em matéria de ruído centra-se na avaliação do impacto da poluição sonora a nível europeu. Avaliamos o impacto da exposição ao ruído na saúde da população europeia, com base nos últimos dados europeus.
Quais são as principais conclusões da nota informativa? O que o torna diferente do relatório da AEA publicado no início deste ano?
O relatório da AEA Environmental Noise in Europe [O ruído ambiental na Europa] foi publicado em março de 2020. E agora publicamos uma nota informativa que descreve os riscos para a saúde decorrentes da exposição ao ruído ambiental na Europa. A nota informativa descreve indicadores que serão utilizados para informar o desenvolvimento de objetivos futuros, com vista à redução dos impactos do ruído na saúde. Relativamente aos efeitos específicos para a saúde, estimamos que a exposição crónica ao ruído contribua para o aparecimento na Europa de 48 000 novos casos de doença cardíaca e para a ocorrência de 12 000 mortes prematuras, todos os anos. Estimamos ainda que 22 milhões de pessoas sofram de um elevado nível de incómodo crónico e que 6,5 milhões de pessoas sofram de perturbações do sono crónicas.
Como perspetivam a evolução do trabalho nas vossas áreas, nos próximos anos?
Esperamos um maior envolvimento da AEA nestas áreas. Esperamos que o Pacto Ecológico Europeu venha a ser um fator de mudança na Europa, resultando numa maior sensibilização para questões ambientais como a poluição atmosférica e sonora e desencadeando também melhores políticas.
Para além do Pacto Ecológico Europeu, a Organização Mundial da Saúde publicou recentemente orientações sobre o ruído ambiental, estando também prevista a publicação de novas orientações sobre a qualidade do ar. Pretendemos que a publicação destas orientações dê maior visibilidade ao problema do ruído e da poluição atmosférica.
Catherine Ganzleben
Chefe de grupo — Poluição atmosférica, ambiente e saúde
Alberto González
Especialista em qualidade do ar, AEA
Eulalia Peris
Especialista em poluição sonora, AEA
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