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Após uma investigação minuciosa, concluiu‑se que a doença era causada por um vírus denominado chikungunya, transmitido aos seres humanos por um insecto, o mosquito Aedes ou «tigre», mais comum na África e na Ásia. Foi apurado que a infecção tinha tido origem num homem que estava a passar férias na região.
Supõe-se que o homem doente foi infectado antes de viajar para a Europa, mas que foi picado por um mosquito Aedes em Itália. Esse mosquito é um vector ou transmissor do vírus e supõe-se que o insecto em questão tenha propagado o vírus a outra pessoa da aldeia. Foi, assim, desencadeada uma reacção em cadeia, com os mosquitos a picarem pessoas infectadas e a propagarem o vírus até se ter declarado uma mini-epidemia.
O surto de chikungunya resultou de uma rede complexa de interacções e condições reveladora de alguns dos riscos e desafios para a saúde que temos de enfrentar num mundo globalizado. O turismo, as alterações climáticas, o comércio, a circulação das espécies e a saúde pública desempenharam, todos eles, algum papel na situação.
Supõe-se que o mosquito Aedes foi introduzido na Europa através de vários produtos importados – desde plantas ornamentais como o «bambu da sorte» até aos pneus usados. Têm sido encontradas larvas desse mosquito em muitas zonas da Europa, mas ele só consegue sobreviver ao ar livre nos países mais quentes do sul ou, mais a norte, em estufas, por exemplo nos Países Baixos.
Agora também têm sido encontradas doenças como a dengue e a febre do Nilo Ocidental, que também são transmitidas pela picada de mosquitos. Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (CEPCD) de Estocolmo, Suécia, desde o primeiro grande surto registado na Roménia em 1996, a infecção da febre do Nilo Ocidental foi reconhecida como um importante motivo de preocupação para a saúde pública na Europa. Não existe, por enquanto, qualquer vacina disponível e as principais medidas preventivas visam reduzir a exposição às picadas dos mosquitos.
É possível que estejamos a criar as condições necessárias para a propagação de doenças infecciosas, condições que antes não existiam. A industrialização da produção alimentar, por exemplo, suscita grande preocupação. Ao criar intensivamente um tipo de animal, corremos o risco de produzir «monoculturas» com pouca variabilidade genética. Esses animais são muito vulneráveis às doenças causadas pela falta de higiene ou resultantes do contágio por animais selvagens, como as aves. Uma vez introduzidas na monocultura, as doenças podem facilmente sofrer mutações e propagar-se às próprias pessoas que trabalham com os animais em questão. A utilização excessiva de antibióticos tornou‑se um método aceite de compensação da falta de resistências naturais, prática que também pode causar problemas.
«Uma agricultura moderna e eficiente, tal como a saúde pública, conta com a ciência e a medicina para responder a algumas das exigências de um mundo globalizado. Embora a agricultura moderna tenha beneficiado muitos de nós, proporcionandonos alimentos mais baratos e abundantes, também pode causar pressões e problemas imprevistos», afirma o Dr. Marc Sprenger, director do CEPCD.
«Por exemplo, devido à ampla utilização de antibióticos na agricultura, a eficácia dos mesmos pode diminuir à medida que as bactérias se tornam mais resistentes, facto que também poderá afectar os seres humanos», especifica o Dr. Sprenger.
Os esforços para combater as alterações climáticas melhorarão a qualidade do ar.
O pacote Clima e Energias Renováveis (CARE) da União Europeia tem os seguintes objectivos:
Os esforços necessários para cumprir estes objectivos reduzirão também a poluição atmosférica na Europa. Por exemplo, as melhorias da eficiência energética e a maior utilização de energias renováveis conduzirão à redução do consumo de combustíveis fósseis, uma fonte fundamental de poluição atmosférica. Estes efeitos secundários positivos são denominados «benefícios complementares» da política relativa às alterações climáticas.
Segundo as estimativas, o pacote supracitado reduzirá em vários milhões de euros os custos anuais do cumprimento dos objectivos da UE em matéria de poluição atmosférica. Além disso, os serviços de saúde europeus poderão chegar a poupar seis vezes mais do que isso.
As novas espécies e as novas doenças que estão a chegar à Europa são apenas alguns dos impactes das alterações climáticas na saúde. Muitos mais impactes ambientais e sociais poderão vir a afectar a saúde humana através de alterações da qualidade e da quantidade da água, do ar e dos alimentos, bem como dos padrões meteorológicos, dos ecossistemas, da agricultura e dos meios de subsistência.
As alterações climáticas também podem agravar problemas ambientais já existentes, como a poluição atmosférica, e pôr em causa a sustentabilidade dos serviços de abastecimento de água e de saneamento.
A onda de calor que assolou a Europa no Verão de 2003, fazendo mais de 70 000 vítimas mortais, pôs a nu a necessidade de adaptação a um clima em mudança. Os idosos e as pessoas com determinadas doenças correm maiores riscos e os grupos carenciados da população são mais vulneráveis. Nas zonas urbanas congestionadas, com elevada impermeabilização dos solos e muitas superfícies que absorvem o calor, os efeitos dessas ondas podem ser agravados por um arrefecimento insuficiente durante a noite e a reduzida circulação do ar.
Para as populações da UE, a mortalidade aumentará, segundo as estimativas, de 1% a 4% por cada grau que a temperatura aumentar acima de um valor limite (específico de cada local). Na década de 2020, o aumento estimado da mortalidade relacionada com o calor, em resultado das alterações climáticas previstas, poderá ultrapassar as 25 000 pessoas por ano, sobretudo nas regiões do centro e do sul da Europa.
«É necessário que o debate que interliga a saúde, a utilização do solo, a agricultura, o turismo, o comércio e as alterações climáticas se desenvolva de forma imaginativa. É possível que, neste momento, não estejamos a relacionar a saúde pública e o ambiente ou as alterações climáticas da forma adequada», indica o Dr. Sprenger.
«Por exemplo, visitei recentemente um serviço de saúde e perguntei quem estava encarregado das questões relacionadas com as alterações climáticas. Responderam me que não estava ninguém. Não estou a formular juízos sobre nenhum serviço ou autoridade específicos, mas isto mostra bem que temos de mudar a forma como pensamos nestes problemas, pois estão todos interligados», refere o Dr. Sprenger.
«Os sistemas de saúde pública devem começar a adaptar-se e a abrir-se à possibilidade de haver novas doenças e novas condições climáticas. Neste momento, as pessoas podem ser mal diagnosticadas por o seu médico não estar familiarizado com um novo vírus. Há muitos que apresentam sintomas semelhantes aos da gripe. Precisamos de instrumentos novos para enfrentar os novos desafios, por exemplo em matéria de formação, e infra-estruturas, como os laboratórios, têm de ser flexíveis e adaptáveis», conclui.
O mosquito Aedes albopictus é um dos exemplos mais disseminados de uma «espécie invasiva». A sua área tradicional de distribuição vai desde o Paquistão à Coreia do Norte, mas agora está presente em todo o mundo, tendo sido designado como o «mosquito mais invasivo do planeta».
Este mosquito é apenas um exemplo de uma ameaça muito mais vasta para a biodiversidade europeia, dado que espécies exógenas ou não autóctones se estabelecem e propagam por todo o continente em resultado das actividades humanas. É possível encontrar espécies exógenas em todos os ecossistemas europeus. A globalização, sobretudo o aumento do comércio e do turismo, fez aumentar o número e o tipo de espécies exógenas que chegam à Europa.
Foram registadas cerca de 10 000 espécies exógenas no continente europeu. Algumas, como a batata e o tomate, foram introduzidas propositadamente e conservaram a sua importância económica até hoje. Outras espécies, as denominadas «espécies exógenas invasivas», podem causar problemas graves à jardinagem, à agricultura e à silvicultura, transmitindo doenças ou danificando construções como edifícios e barragens.
As espécies exógenas invasivas também alteram os ecossistemas onde vivem e afectam as outras espécies presentes nesses ecossistemas. A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica identifica as espécies exógenas invasivas como uma das maiores ameaças à biodiversidade em todo o mundo.
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