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Fiquei muito emocionada. O que mais me surpreendeu foi o impacto que teve em mim. Estava tudo escuro e, de onde estávamos, nem se via a plataforma de lançamento do foguete.
De repente, apareceu uma luz ao longe, penetrando a escuridão, e então vimo-lo a subir. Como a área de lançamento ficava muito longe, o som chegava com atraso, aumentando a nossa expectativa. Foi incrível assim que o som chegou até nós.
O foguete traçou um semicírculo perfeito no céu e, a certa altura, desapareceu numas nuvens baixas, antes de reaparecer. Foi tão perfeito que quase nem parecia real. Pensei: «Isto está mesmo a acontecer».
© ESA–S. Corvaja
Trabalho com imagens de satélite desde a minha tese de mestrado na Universidade de Wageningen, no início dos anos 2000. Sempre tive noção da existência de satélites — estão lá em cima a recolher dados —, mas lançar um para o espaço era um conceito mais abstrato para mim.
Ver o lançamento do foguete tornou tudo real de uma forma que é difícil de descrever. É um pensamento simples, mas que me pareceu profundo naquele momento.
O Sentinel—2C dá continuidade ao Sentinel—2A. O programa Copernicus da União Europeia é extenso e a manutenção a longo prazo é uma parte essencial do plano. O Sentinel—2C assegurará a continuidade dos dados, ligando o Sentinel—2A, 2B e, mais tarde, 2D. Estes satélites funcionam em pares, proporcionando uma base sólida para o nosso trabalho no serviço de monitorização do meio terrestre Copernicus (CLMS).
A continuidade é crucial para o tipo de monitorização a longo prazo que fazemos no CLMS e na Agência Europeia do Ambiente (AEA). No caso dos dados ambientais, o mais importante nem é aumentar a resolução ou a frequência, mas, sim, estabelecer uma série cronológica coerente ao longo de muitos anos. Se forem introduzidas alterações com muita frequência, torna-se difícil manter a coerência.
Com o Sentinel—2C, conseguiremos ter uma série cronológica fiável desde o lançamento do Sentinel—2A até à próxima geração de satélites, abrangendo cerca de 15 anos. Este fluxo coerente de dados é inestimável para acompanhar as alterações ambientais ao longo do tempo.
As futuras gerações de satélites Sentinels continuarão a trazer melhorias, tais como uma melhor resolução espacial e outras caraterísticas.
O Sentinel—2A acabará por ser posto fora de funcionamento. Houve debates sobre a manutenção de três satélites em órbita simultaneamente para aumentar a frequência da recolha de dados, permitindo-nos captar imagens a cada três dias, em vez de cinco.
Os maiores defensores desta ideia foram os países escandinavos e a Áustria, onde a nebulosidade em terrenos montanhosos dificulta a obtenção de observações sem nuvens. O Sentinel—2A já ultrapassou o seu tempo de vida previsto de sete anos. Embora ainda esteja funcional, está a chegar ao fim da sua missão, pelo que a Comissão Europeia tomou a decisão de não o manter.
O CLMS é um dos maiores utilizadores do Sentinel—2, uma vez que se trata de um satélite definido para monitorizar a terra e nós somos o serviço que monitoriza a terra no âmbito do programa Copernicus. É por isso que estamos envolvidos na definição das especificações do Sentinel—2 e estamos ativos na definição de futuras missões.
Os nossos prestadores de serviços utilizam as imagens do Sentinel—2 para criar vários produtos, fornecendo informações relacionadas com a cobertura e o uso do solo, o estado da vegetação, os recursos hídricos e até variáveis energéticas. Por exemplo, podemos utilizar a aprendizagem automática para classificar automaticamente a cobertura dos solos ou para ter produtos relacionados com o estado da vegetação. Em alternativa, também podemos utilizar os dados para realizar análises do uso do solo, como, por exemplo, distinguir os pomares das vinhas, algo que muitas vezes é feito manualmente.
Os dados são úteis, mesmo para além das políticas e da administração. Por exemplo, os agricultores podem utilizá-los para monitorizar a saúde das suas culturas, verificando se existe escassez de água, excesso de humidade ou necessidade de fertilizantes. A indústria da madeira pode avaliar o estado das florestas sem necessidade de inspeções no local.
Assistimos também a um interesse crescente por parte das companhias de seguros, que utilizam os nossos dados para avaliar pedidos de indemnização por danos. As instituições financeiras começam a alavancar os dados para certificações de sustentabilidade e avaliações de risco.
Existe um enorme potencial para que estes dados sejam utilizados em áreas como a proteção civil, a conformidade ambiental e mesmo a prevenção de crimes ambientais, por exemplo, o abate ilegal de árvores e a extração de água. Um dos serviços Copernicus foi encarregado de monitorizar a conformidade ambiental, o que inclui combater atividades ilegais como descargas e o abate de árvores. Embora o CLMS não produza produtos específicos para este fim, os nossos dados podem certamente ser utilizados por outras entidades para identificar essas atividades. Trata-se de um instrumento poderoso para garantir o cumprimento da legislação ambiental.
E todos estes dados estão disponíveis e acessíveis em linha, gratuitamente.
Uma das vantagens dos nossos produtos é a coerência. Se quiser saber o estado de algo em toda a Europa, os nossos produtos fornecem uma visão geral coerente em todo o continente. Isto é crucial porque, embora os conjuntos de dados nacionais sejam normalmente de maior qualidade para países específicos, oferecemos algo harmonizado em toda a área de interesse. Um dos nossos produtos emblemáticos, por exemplo, é o CORINE Land Cover, que utiliza a mesma definição de classes de cobertura dos solos nos 39 países membros do EEE e no Reino Unido. Esta coerência é uma vantagem importante, uma vez que pode comparar classes de cobertura terrestres, por exemplo, em Itália e na Irlanda, sabendo que são classificadas segundo os mesmos critérios,
o que faz do Corine Land Cover um dos produtos mais amplamente utilizados e descarregados com mais frequência. O projeto remonta a 1990 e a atualização seguinte ocorreu em 2000. Desde então, é atualizado de seis em seis anos e estamos a trabalhar na atualização para 2024.
Estamos a trabalhar na definição da terceira fase do programa Copernicus, que incluirá novas missões centradas em áreas como a humidade do solo e a qualidade da água. Há uma missão que me entusiasma especialmente: a imagiologia hiperespetral. Tal permitir-nos-á monitorizar não só a saúde da vegetação, mas também a composição do solo de forma muito mais pormenorizada. A minha tese de mestrado foi sobre dados hiperespetrais, pelo que estou interessadíssima na evolução desta tecnologia.
Em termos prospetivos, continuaremos a adaptar o nosso portefólio a estas novas capacidades. Com a próxima geração de Sentinels e as missões de expansão, poderemos melhorar a qualidade dos dados que utilizamos e acrescentar capacidades de monitorização completamente novas. Estamos a viver um período apaixonante para a observação da Terra.
O programa Copernicus tem sido transformador para a observação da Terra. Quando comecei nesta área, tínhamos acesso a apenas uma ou duas imagens e, agora, podemos aceder gratuitamente a uma ampla variedade de dados. Isto criou um novo paradigma na observação da Terra, tornando possível operacionalizar o que antes eram apenas conceitos teóricos. Foi revolucionário.
Devemos estar extremamente orgulhosos do facto de a Europa ter liderado esta iniciativa, inspirando outros atores mundiais, como a NASA, a seguirem o exemplo. A disponibilidade de dados abertos revolucionou a forma como monitorizamos o nosso planeta e teve um enorme impacto na ciência aplicada.
Usue Donezar
Perita — Chefe de projeto Copernicus
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